Caminho do Imigrante
Porém, o maior legado da importância histórica desse caminho, que foi utilizado pelos primeiros imigrantes para alcançar a tão sonhada Mèrica em terras capixabas, é aquele registrado como memória, fruto da tradição oral, referenciado pelos milhares de seus descendentes.
Testemunhas oculares também foram os tropeiros que levavam produtos a serem consumidos pelos camponeses e traziam aqueles produzidos pelos colonos e vendidos na praça comercial de Santa Leopoldina. Aí então entravam novamente em cena os canoeiros do rio Santa Maria, geralmente negros, que desde o período da escravidão trilhavam o “caminho fluvial” do rio Santa Maria até alcançar Vitória para também levar e trazer os imigrantes e seus produtos à bordo das canoas. São muitas as histórias deixadas por estes desbravadores o que dignifica ainda mais a importância da região dentro do contexto da imigração no Espírito Santo.
A abertura dessas veias de comunicação por entre a densa floresta da Mata Atlântica tornava-se um dos maiores desafios para os desbravadores, já desiludidos pelas promessas dos agenciadores de que aqui encontrariam estradas, terrenos prontos para o cultivo, utensílios para o trabalho, entre outros itens necessários à sua subsistência. A Mata Atlântica, então, era uma muralha verde a ser vencida. Ali, o colono deveria tirar o seu sustento, exibindo o solo nu da grande floresta; abrindo picadas e preparando o terreno para receber as sementes que lhe daria o pão e o tão sonhado progresso.
Esse pedaço da história é retomado como lembrança de um tempo heróico de nossos antepassados que agora são homenageados pelos caminhantes, neste início de século XXI; porém, sem as antigas armas e adversidades encontradas por aqueles “primeiros trilheiros”.
Estão agregados, então, outros valores demandados pela realidade deste início de Século XXI: a preservação da natureza, homenagem aos imigrantes desbravadores; um maior conhecimento da história aliado ao lazer turístico; prática de exercícios físicos, entre outros objetivos particulares de cada caminhante.
Além disso, o percurso escolhido não poderia ser outro senão aquele trilhado pelos imigrantes que se libertaram das mãos de Tabacchi e subiram o rio Santa Maria para alcançar os lotes coloniais no então recém-criado Núcleo Colonial de Timbuhy, abrindo novas trilhas – caminhos que hoje buscamos refazer – e fundando assim a primeira cidade italiana do Brasil: Santa Teresa.
Essa mesma trilha foi então ampliada em 1919 para servir de estrada para o trânsito de automóveis. Foi a primeira no Espírito Santo. Inaugurada pelo então governador, Bernardino Monteiro (ficando denominada assim de ES-080- Bernardino Monteiro), antes mesmo que Vitória possuísse veículos. Na região, com o progresso das colônias e do comércio do café colhido pelos imigrantes, a realidade já era outra.
A data fixa escolhida para a realização do evento não poderia ser outra senão o 1º de Maio, Dia do Trabalho, feriado internacional, pois foi por meio do trabalho que milhares de famílias, formadas por crianças, jovens, adultos e idosos, entraram no hinterland capixaba empregando a cultura herdada dos ancestrais e agregando novos conhecimentos adquiridos dos antigos capixabas, contribuíram para o desenvolvimento do Estado.
O Caminho do Imigrante já é um sucesso entre os caminhantes, trilheiros capixabas e de outros Estados do país. É grande a participação dos descendentes daqueles imigrantes que há mais de 130 anos abriram as primeiras trilhas em meio à densa floresta tropical da então Colônia de Santa Leopoldina e que hoje se empenham para completar os 29 Km do percurso. Prova disso, é o crescente número de participantes a cada edição do evento. A primeira edição contou com a presença de mil pessoas e a quarta, em 2007, superou a quantia de 2.500 andarilhos.
O evento já faz parte do calendário oficial dos dois municípios envolvidos e muito vem colaborando para divulgar a importância turística da região. O conteúdo histórico-cultural do evento é uma alavanca que agrega valor a atividade mais rotineira dos seres humanos: caminhar. É bom e faz bem à saúde!
Participe!
Caminho é citado em duas importantes obras literárias
O escritor Graça Aranha cita o caminho que foi percorrido pelos principais personagens de sua obra-prima, Canaã: “E os dois caminhavam afastando-se do Porto do Cachoeiro [porto de Santa Leopoldina] na direção de Santa Teresa. A princípio a estrada cortava por cima de pequenos morros descobertos, onde, numa paisagem acidentada e limpa, passeavam errantes as sombras das nuvens; daí a momentos ela morria na boca da mata. Milkau e Lentz, ao penetrarem na escuridão repentina e fria, sentiram pelos olhos o véu de uma ligeira vertigem. Pouco a pouco eles se recompuseram, e então admiraram.”
Em Karina, a escritora Virgínia G. Tamanini assim descreve a abertura do caminho: “A trilha foi se alargando dentro da floresta e a estrada se assentando cada dia um pouco mais. Quase um ano, entretanto, ainda decorreria até que nossos homens alcançassem o núcleo colonial. Foram recebidos com festas pelos imigrantes que os haviam antecedido, responsáveis pela picada primitiva, origem daquela estrada”.
Fonte: http://www.caminhodoimigrante.es.gov.br/